Concreta ’56: a raiz da forma
Resgatando um divisor de águas da arte brasileira
O historiador e crítico de arte Lorenzo Mammì foi convidado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo para realizar uma tarefa desafiadora: reconstituir a I Exposição Nacional de Arte Concreta, tal como ela havia sido montada em 1956, comemorando seus 50 anos de existência.
Evento crucial de consolidação e crise do movimento concreto, a I ENAC merecia ser reconstituída por várias razões, mas principalmente por ter tido a curtíssima duração de uma semana e por sua documentação ter sido fraca e esparsa. A expectativa de Lorenzo era de que, remontando o evento com a maior fidelidade possível à configuração original, seria possível investigar com maior propriedade os meandros do significado dessa exposição para os desdobramentos posteriores da arte brasileira.
Além de montar a exposição com as pinturas, esculturas e poemas que faziam parte do evento original, Lorenzo imaginou complementar a exposição com um panorama do design produzido naquela época pelos artistas que haviam participado da exposição e por outros colegas de percurso ligados ao movimento concreto. A Tecnopop foi chamada para fazer o desenho da exposição e a curadoria da parte ligada ao design, que ficou a cargo do designer André Stolarski.
A recriação do evento foi absolutamente fiel tanto à sua edição original quanto à arquitetura e à realidade da nova sede do MAM SP. Painéis informativos com montagens fotográficas inéditas localizavam o visitante na exposição original, permitindo a comparação com a remontagem. As salas foram remontadas em sua proporção original, mas foram nitidamente deslocadas em relação à planta do museu atual para indicar sua independência histórica. Ao invés de falsear paredes contínuas, os painéis do museu foram utilizados isoladamente, ecoando a modulação geométrica das obras expostas. A paisagem do Parque do Ibirapuera foi incorporada à exposição. Na fachada, um grande vitral geométrico foi montado em homenagem ao trabalho de Antonio Maluf.
A exposição de design complementou a exposição de poesia e artes visuais com um panorama da produção ligada ao concretismo entre os anos de 1948 e 1964. Uma grande parede composta por marcas do período, complementada por vitrines contendo embalagens, livros, jornais, revistas, e por pequenas exposições de cartazes, mobiliário e intervenções arquitetônicas, caracterizou o espaço.
A identidade visual da exposição, concebida por Alexandre Wollner (também responsável pelo projeto do catálogo da exposição, que contém textos críticos de Lorenzo Mammì, João Bandeira e André Stolarski) foi rigorosamente respeitada no desenvolvimento do projeto.